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Entre espaços para reflexões e rodas de amizades que já frequentei; Entre sambas de roda e maracatu atômico que já dancei; Entre ombros molhados e abraços ardentes que já me aconcheguei; Fico aqui somente a expressar minha liberdade que um dia aspirei. Sem fanatismos, sem preconceitos, sem restrições, sem medos... Este é meu/nosso espaço

domingo, 6 de março de 2011

Vamos calar a boca, nordestinos!


Estamos pensando que somos bons só porque demos à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, pensamos que podemos tudo? Claro que não.

Isso sem falar no humor brasileiro com os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal m
ais votado pelos PAULISTAS!!!


E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Q
ueiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano. Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura.


Música? Não, nós nordestinos não poderíamos ter coisa boa a oferecer, somos analfabetos e sem cultura...
Ou estamos pensando que o resto do país vai nos aceitar por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das canções de Nando Cordel, Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar em Zé e Elba Ramalho e Fagner.
E não poderia deixar de lembrar também da genial fam
ília Caymmi.


Além de tudo isso, ainda resistimos à escravatura. E foi daqui que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que demos Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história de nosso povo?

Um conselho para nós, pobres nordestinos. Deveríamos aprender com eles, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil.

Por que não aprendemos com eles os batidões do funk carioca? Deveríamos aprender e ver as nossas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveríamos aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendemos o pagode gostoso de Netinho? E ainda poderíamos levar nossas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Iríamos adorar!

Mas se não quisermos, podemos pedir ao pessoal do Mato Grosso do Sul, que nos exporte o sertanejo universitário, coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que nós temos que aprender com eles, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Não sabemos, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou não percebemos ainda que nossas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso, mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Vamos calar a boca, nordestinos!

Vamos calar a boca, porque nós não precisamos nos rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, tirar tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Vamos calar a boca, e deixar quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não vamos deixar que isso nos tire de nossa posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Vamos calar a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que nós legamos, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do nosso povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Texto de José Barbosa Junior [ADAPTADO]

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